domingo, 28 de junho de 2009

Pensamentos I I (Voltaire)



Ensina-se os homens a serem honestos;
sem isso, poucos chegariam a sê-lo.

Os leitores servem-se dos livros
como os cidadãos dos homens.
Não vivemos com todos os nossos contemporâneos,
escolhemos alguns amigos.

Se um livro é mau, nada o pode desculpar;
sendo bom, nem todos os reis o conseguem esmagar.

Aproximo-me suavemente do momento
em que os filósofos e os imbecis têm o mesmo destino.

A natureza faz troça dos indivíduos.
Desde que a grande máquina do universo
vá girando, os ínfimos seres que a habitam
não lhe interessam para nada!.

Quem pretende destruir as paixões,
em vez de as regular, quer fingir-se inocente.

As paixões são os ventos que enfunam
as velas dos barcos, elas fazem-nos naufragar,
por vezes, mas sem elas, eles não poderiam singrar.

Nunca deveis utilizar uma palavra nova,
a não ser que ela tenha estas três qualidades:
ser necessária, inteligível e sonora.

Se o homem fosse perfeito, seria Deus.

Não devemos avisar as pessoas do perigo
que correm, salvo depois de ele ter passado.

Feliz daquele que desfruta agradavelmente da sociedade!
Mais feliz é quem não faz caso dela e a evita!.

Deve-se consideração aos vivos;
aos mortos apenas se deve a verdade.

Gozai a vossa bela saúde;
só é jovem quem passa bem.

Confesso que o género humano não é tão mau
como certas pessoas o apregoam na esperança de o governar.

Todos os homens têm o seu instinto; e o instinto do homem,
fortalecido pela razão, leva-o à sociedade,
como à comida e à bebida.

A espécie humana é a única que sabe que tem de morrer.

O mais feliz passa por ser o maior,
e o público atribui muitas vezes
ao mérito todos os êxitos da sorte.

Não é que o suicídio seja sempre uma loucura.
(...) Mas, em geral, não é num acesso de razão
que nos matamos.

A superstição põe o mundo em chamas,
a filosofia apaga-as.

O segredo de aborrecer é dizer tudo.

Só os operários sabem o preço do tempo;
e fazem-se pagar por ele.

Há cem poéticas para um poema.

Não estou de acordo com aquilo que dizeis,
mas lutarei até ao fim para que vos seja possível dizê-lo.

Se a natureza nos não houvesse feito um pouco frívolos,
seríamos muito infelizes; é por ser frívola que a maior
parte das pessoas não se enforca.

Quando mais envelhecemos,
mais precisamos de ter que fazer.
Mais vale morrer do que arrastarmos
na ociosidade uma velhice insípida: trabalhar é viver.

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