
Quanto mais uma pessoa tem em si, tanto menos
os outros podem ser alguma coisa para ela.
Um certo sentimento de auto-suficiência é o que impede
os indivíduos de riqueza e valor intrínseco de fazerem
os sacrifícios importantes, exigidos pela vida em comum
com os outros, para não falar em procurá-la às custa
s de uma considerável auto-abnegação.
O oposto disso é o que torna os indivíduos comuns
tão sociáveis e acomodáveis: para eles, é mais fácil
suportar os outros do que eles mesmo.
Acrescente-se a isso que aquilo que possui
um valor real não é apreciado no mundo,
e aquilo que é apreciado não tem valor.
A prova e consequência disso estão no retraimento
de todo o homem digno e distinto. Assim sendo,
será genuína sabedoria de vida de quem possui algo
de justo em si mesmo, se, em caso de necessidade,
souber limitar as suas próprias carências,
a fim de preservar ou ampliar a sua liberdade,
isto é, se souber contentar-se com o menos possível
para a sua pessoa nas relações inevitáveis
com o universo humano.
Por outro lado, o que faz dos homens seres sociáveis
é a sua incapacidade de suportar a solidão e, nesta, a si mesmos.
Vazio interior e fastio: eis o que os impele tanto para a sociedade
quanto para os lugares exóticos e as viagens.
O seu espírito carece de força impulsora própria
para conferir movimento a si mesmo, o que faz com que procurem
intensificá-la mediante o vinho.
E muitos, ao tomar esse caminho, tornam-se alcoólatras.
Justamente por isso, os homens precisam sempre de estímulo exterior,
e do mais forte, ou seja, dos seus iguais.
Sem ele, o seu espírito decai sob o próprio peso,
prostrando-se numa letargia esmagadora.
-Arthur Schopenhauer-
De Aforismos para a Sabedoria de Vida
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